Lembra-te de mim

Catarina era uma menina divertida, humilde, romântica e muito sensível.
Era a sua força de vontade que a mantinha viva. Ela adorava viver e o seu sonho era participar nos jogos paraolimpicos, apesar de saber da sua limitação em não poder andar.
Catarina tinha o apoio de uma cadeira de rodas, não era feliz, não tinha amigos e era descriminada. Na escola era campeã de natação e era isso que despertava a inveja de todos.
O desporto era a sua vida. Seus pais viviam numa pequena cidade chamada Covilhã, com a sua única filha, de quem gostavam muito.
Catarina teve um problema ao nascer, mas isso nada importava, ela estava viva, e orgulhava-se disso, acreditando em si.
Ela treinava, todos os dias em casa, com o apoio dos pais, pois ela tinha que estar bem preparada para a grande competição que se disputava na escola: as olimpíadas escolares.
O dia começou bem cedo, o barulho na escola era contagiante pois, iria ser um dia bem passado.
Catarina estava ansiosa por competir, pois era muito importante para ela. Um senhor chamou as atletas, uma a uma, e, logo deu a partida.
-- Pum! Catarina saltou para a piscina nadou, nadou... e, conseguiu alcançar aquilo que tanto esperava, lutou durante dias para o 1º lugar, e ser campeã de meio fundo.
Seus pais não escondiam a alegria de ver, mais uma vez, a sua encantadora e única filha, campeã.
Mas, na verdade, Catarina estava triste e a chorar.
Eu vi Catarina, ali sentada e logo lhe perguntei: Porque choras? Porque todos me gozam... por eu ser assim!
Então ofereci-lhe o meu ombro e, já muito calma, ofereci-me para a acompanhar e para ser seu treinador.
A felicidade de Catarina foi tanta que não me contive, e acabei por derramar uma lágrima…
Foi com alguma emoção que Catarina recebeu a sua medalha. Fomos todos comemorar, para casa de Catarina e estávamos todos muito felizes e, é claro, que eu estava ali, para lhe dar todo o meu apoio.
A face de qualificação para o campeonato do mundo tinha chegado. Nós tínhamos a convicção que tínhamos que trabalhar muito, mas cientes que tínhamos que dar um passo de cada vez.
Não havia tempo a perder. Cada dia e cada momento era vivido com enorme emoção. Para mim era uma satisfação poder treinar Catarina, e era muito, muito importante trabalharmos em conjunto.
Todos os dias, ao final da tarde, lá estávamos nós, na piscina olímpica da escola. Faltava pouco para chegar o grande dia, a ansiedade era enorme, mas eu não gostava de euforias, isso era fundamental.
Pois era com muita calma, com a mesma humildade e com muita concentração que iríamos lá estar.
Treinador: 1-2-3, partida!... Muito bem, melhoraste o teu tempo e andas a nadar melhor, mas vamos aperfeiçoar alguns movimentos.
Catarina: Já estou cansada!
Treinador: Tudo bem, por agora terminamos, não te quero esforçar muito, vamos com calma!
Catarina: Mas, amanhã, voltamos?
Treinador: È claro que sim! È muito bom saber dessa tua força de vontade.
Eu tinha notado que Catarina estava preparada para dar o seu melhor. A festa tinha começado e Catarina estava, lado a lado, com as melhores nadadoras do mundo.
Era a sua vez, Catarina não tinha ninguém da sua turma, o que a deixava muito triste, só lá estávamos eu e seus pais.
Aos seus lugares! Um senhor anunciou a partida. Força... força... gritaram emocionados, seus pais.
Eu estava ali por perto e gritei: “ tu consegues... tu consegues!
Catarina sentia-se feliz a nadar deixando as adversárias para trás, e assim alcançou, mais uma vez, o título de campeã melhorando o seu tempo.
A festa foi total, o importante foi conseguido. Catarina estava de parabéns.
Trim! Trim! Quem é? Correio! A mãe de Catarina abre a porta para receber umas cartas. Então o carteiro avisa que tem de assinar um registo de uma carta muito importante.
Essa carta era para Catarina e era da selecção portuguesa. A euforia invadiu a casa.
Mãe de Catarina: Catarina! Catarina! Vem cá, minha filha, tenho notícias para ti!...
Catarina: Conte! Conte! Minha mãe.
Então prestou muita atenção naquilo que a mãe tinha para lhe dizer.
Mãe de Catarina: È com enorme gosto que lhe comunicamos, que a partir desta data, a senhora Catarina faz parte da selecção portuguesa, bem como o seu treinador.
O sonho tinha começado, ela nem queria acreditar e, logo de seguida, ela telefona ao treinador.
Catarina: Treinador... Fui chamada à selecção nacional!
Treinador: Que bom! Que bom! Este é o resultado do muito trabalho, estou muito feliz e, fiquei muito surpreendido.
A caminhada, e o grande sonho de Catarina tinham começado e agora tínhamos de ser melhores do que os outros.
Pois Catarina ia aos jogos paraolimpicos, o que era um orgulho para ela, e o início de um grande sonho.
As aulas acabaram, e ela sabia que tinha uma longa viagem até à Rússia. Eram lá os jogos, na cidade de Moscovo.
Catarina nunca sonharia, na vida dela, em representar o seu país e vestir a camisola de Portugal. Já podia lançar os seus trunfos.
A partida para a Rússia estava marcada, a ansiedade era enorme, Catarina despediu-se de seus pais com um “até já”, e eu tinha a obrigação e o dever de cuidar muito bem de Catarina.
O seu coração estava acelerado e só pensava numa medalha. Tínhamos levantado voo. A aventura, o sonho, a festa e o convívio tinham começado.
Lá conheci gente como eu, igual a mim. Catarina nem queria acreditar no que lhe tinha acontecido. Ela já podia compartilhar os seus problemas com os seus novos amigos, pois ela sabia que ter amigos é a coisa melhor do mundo!
O voo tinha demorado cinco horas, o avião tinha aterrado em Moscovo, e, logo de seguida, fomos recebidos com honras de Estado, o que foi maravilhoso!
Estavam lá muitos atletas de muitos países. Catarina estava cansada da longa viagem e então foi para o hotel, descansar.
Treinador: Dorme, dorme que amanhã é um grande dia!
Tum! Tum!
Quem é?
Sou eu, o treinador! Como estás Catarina?
Eu estou óptima! Tu é que não estás bem, o que se passa?
Nada!
Eu tinha que me aguentar para ela não desconfiar de nada, antes da prova, senão estava tudo perdido.
Tinha havido um grande acidente em Portugal, e os pais de Catarina estavam entre os feridos.
Tinham começado os jogos, a maior festa do mundo e para o mundo, seus pais estavam radiantes e era, com emoção, que assistiam a tudo, pela televisão.
Era um pais inteiro a vibrar pela sua selecção tão especial.
Eram especiais porque eles eram muito unidos, tinham muita força de vontade, e nada os deitava abaixo.
Todos gostavam muito de Catarina pela sua bondade, generosidade e sinceridade.
Portugal já tinha arrecadado vinte medalhas: quinze de ouro, três de prata e duas de bronze em diferentes modalidades, como atletismo, futebol, futsal, ginástica, dança, ténis, marcha, entre outras…
Tinha chegado a vez de Catarina que todos aguardavam, com expectativa.
Catarina, repetia para si mesma, eu consigo! Eu consigo! Eu consigo!
Treinador: Tu consegues, mostra-lhes o que vales!
Deram o tiro de partida: tinha que dar duas voltas!... Já está..., já está... consegui... consegui ser a mais rápida... Todos a aplaudiram, e logo deu um longo e apaixonado beijo ao seu treinador.
Treinador: Parabéns, minha menina, tu realizaste o teu sonho, e conquistaste a medalha da tua vida.
Catarina: Eu conquistei a melhor coisa que foste tu, o amor do meu treinador, de quem estou muito apaixonada.
Estávamos no momento alto dos jogos: a cerimonia de entrega das medalhas e o içar da bandeira de Portugal. Estava tudo preparado para Catarina subir ao pódio.
Foi fantástico, ver Catarina emocionada, a derramar lágrimas de felicidade, abraçando o seu treinador e beijando-o.
Portugal rendeu-se aos seus encantos e de toda a selecção.
O regresso dos atletas foi triunfante, misturado com cânticos de alegria, estava preparada a maior festa de todos os tempos. A multidão invadiu o aeroporto e a confusão era enorme.
Mãe de Catarina: Minha filha! Minha filha! Adorada, encanto do meu viver! Que saudades! és o nosso orgulho!!!
Catarina: Mãe... pai... este é o Nuno, o meu treinador, e gosto muito dele!
Pai de Catarina: Muito bem! Seja bem vindo, á família e muito obrigado!


E foi, assim que Nuno e Catarina conquistaram, o coração um do outro, agora fica no imaginário do leitor, prolongar e acabar, esta pequena história…



Excerto do livro "Lembra-te de mim"

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